02/07/2015

O perigo da supervalorização

Quem de nós não vibra e fica contente a cada conquista do seu filho? Quando as vitórias começam a se repetir, ainda que na intenção de estimular a "carreira esportiva" dos nossos pequenos atletas é que, muitas vezes, cometemos erros.
Os pais podem (e devem) valorizar o seu filho, visando aumentar a sua autoestima. Mas quando há exageros, ao invés de ajudar, acabamos por atrapalhar o desenvolvimento da criança ou adolescente.

É preciso esclarecer: supervalorização nada tem a ver com apoiar, guiar ou motivar. Supervalorizar é
dizer ao filho que ele  faz as coisas maravilhosamente, ainda que não seja verdade. É dizer que ele é o melhor e que está acima dos demais, que pode vencer qualquer adversário, quando na verdade não é bem assim. Esse comportamento não fará com que o atleta seja mais confiante ou se esforce mais, pelo contrário: o atleta que é supervalorizado tende a se acomodar. A tendência do pensamento é: "como tudo o que faço é perfeito, não preciso me esforçar".  A criança pode pensar também que é um ser superior, que irá vencer sempre e que não há necessidade de preocupar-se com adversários, uma vez que é capaz de vencer a todos.

Supervalorização não é o caminho para o aumento da autoestima. Ainda que aparentemente seja assim, o que aumenta é o ego e o narcisismo. A criança (ou adolescente)  precisa de tranquilidade emocional dos pais e precisa saber encarar a  realidade:  ela pode não ser a melhor, mas o esforço é sempre o melhor caminho.

Relacionando ao esporte, há ainda outro enfoque. Às vezes, o pequeno pode até ter um desempenho extraordinário nos primeiros anos de competição. Vence sempre (ou quase sempre) e acaba por realmente acreditar que é um atleta excepcional e que um destino de glórias o aguarda num futuro próximo. Porém, raramente é assim. 
Ao chegar nas classes mais disputadas (ou então nas adultas), o atleta acaba por tomar um choque de realidade. Descobre que outros tantos tem as mesmas (ou mais) habilidades que ele. Já não vence mais tanto quanto antes e, por não ter preparo emocional, por não estar acostumado com a derrota, acaba desistindo precocemente do esporte.

De acordo com os pesquisadores Brad Bushman e Eddie Brummelman, da Universidade de Amsterdam, oferecer apoio e carinho às crianças é uma estratégia melhor que a de inflar o ego delas. "Os pais não são os únicos culpados por algumas crianças acreditarem ter o rei na barriga. Algumas crianças tem mais propensão a se tornarem narcisistas do que outras, em função de traços genéticos ou de sua própria personalidade. Quando seus pais as supervalorizam, eles apenas contribuem com essa pré-disposição", afirma  Bushman.



Dentre as consequências da supervalorização, é importante lembrar: crianças que se sentem superiores não saberão respeitar as normas e nem os limites. Elas não respeitarão as outras pessoas e terão problemas de relacionamento, já que a humildade não faz parte de sua personalidade. Além disso, podem ter uma visão distorcida da realidade, julgando-se o centro do universo.
Nós, pais, devemos reconhecer os talentos de nossos filhos. Devemos elogiá-los, demonstrando o quanto ficamos felizes com as suas conquistas. Porém, jamais devemos afirmar que eles são superiores, que vencerão sempre ou que tem direito a privilégios.

2 comentários:

Gostou do texto? Rolou uma identificação? ;)
Deixe seu recado para nós!